Presença que acalma

07:57:00




No tempo de seminário, certa feita vivi a seguinte experiência...

Ao sair daquelas aulas que fazem disparar o pensamento em busca de explicações e que os mesmos lutam entre si, alternando a razão para o que é lógico, humano, provável, para o que transcende, que é parcial em compreensão. Essa luta se ajuntou com o desejo de aprofundar ainda mais, o que, ainda, fez-me pensar no quanto eu poderia ter estudado mais em outros tempos... e, pronto, em pouco tempo minha cabeça já estava “meio esquentada”.

Diante disso, só pude tomar uma decisão razoável: vou sair para cortar o cabelo! Imagino que deves estar pensando na relação da confusão do que disse acima com a simplória iniciativa. Não vá adiante. Não tem mesmo nada a ver.

O que quero contar realmente está a partir disso.


No estabelecimento em que freqüento para cortar o cabelo, lá estava um “miudiquinho” menino, sendo atendido por um “barbeiro” que tinha uma mão quase o dobro do tamanho de sua cabeça. O pequeno talvez tinha no máximo 3 anos. Ao lado, sua mãe acompanhava o serviço, com aquele olhar orgulhoso. Coloquei-me a observar, enquanto esperava a minha vez.

Ele me chamava a atenção porque fixava o olhar no espelho e ficava bonzinho, bonzinho (imagino que nem toda criança é assim). A sua mãe, depois de certificar o valor que deveria pagar, saiu para buscar o dinheiro. O menino, que até então estava quietinho, mexia para o lado e para o outro, arregalava os olhos buscando no reflexo do espelho a sua mãe e os mesmos já eram tomados de água... Um choro estava por vir. Ainda conseguiu balbuciar “cadê mamãe”.

Quando ele realmente ia chorar com toda a sua força, de lá de fora mesmo, ouvimos a voz “vixe, que menino mais lindo é esse”. Ela estava de volta! Parece que imaginava que o choro do seu filhote era inevitável e se antecipou. Ali presenciei o sorriso mais bonito que podia ver naquela manhã. O menininho estava tranqüilo novamente.

Aos poucos ele foi tomado de um sono incontrolável. A mamãe tentava ainda evitar “acorde, filho, já ta acabando”... mas, nada. Ali mesmo a cabeça cedeu e, enquanto o barbeiro continuava o serviço, ela segurava a cabeça do filhinho.

Ali pensei em Deus. Pensei na presença de Deus que acalma quando nas diversas situações somos acometidos da solidão, do desconforto, dos “cadê aqueles que mais amo”, dos inúmeros desafios da vida. Pensei no salmista que diz “em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (Sl 47). 

Pensei em duas ou três situações que eu mesmo pude sentir as mãos de Deus que seguravam minha cabeça para continuar sustentada diante das surpresas da vida, igualzinho aquela cena que se passava em minha frente. Pensei nos ensinamentos de um grande padre que dizia “nas decisões que precisam ser tomadas, o que é de Deus traz paz e sossego no coração. Pensei no... Era a minha vez de cortar o cabelo.

Aquilo que poderia ser a coisa mais simples e corriqueira me respondeu (não paliativamente) as inquietações do início da manhã. Sim... pensar é bom... investigar, aprofundar, queimar os neurônios pelo conhecimento... Tudo isso é valido, mas acima de tudo, o que conta é a experiência profunda com Deus. Pensei, ainda, nos ditos de “a melhor maneira de fazer teologia é ajoelhado” e “o grande homem fica maior quando está de joelhos”.

O sorriso mais largo e o cochilo mais gostoso do mundo que poderia ter visto naquela manhã, daquele “miudiquinho” menino me falaram de um Deus que é presença que acalma.

Paz e Alegria,
Pe. Flávio Porto

Foto: Google

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