"De frente com..."
10:27:00
“Ele não sabe ler. Ele não sabe escrever. Mas vendeu milhões de discos esse ano. Estou falando de...”
Essa é uma forma bastante característica da grande apresentadora quando recebe os seus convidados e os coloca de “frente com ela”, e, que muito divertidamente, um amigo seminarista imita.
Sou fascinado por entrevistas. Independente do assunto, acho bastante interessante quando alguém se diz e assim o faz porque outro quer saber e, por isso, direciona a conversa. Vixe... mais ainda quando o papo mexe com o entrevistado e o acesso ao seu coração fica mais fácil.
Às vezes, nessas andanças de padre (e bem antes como seminarista), eu faço esse papel. Encontro tanta gente interessante, com histórias inacreditáveis, lições que são dadas gratuitamente. São pessoas que nunca serão chamadas para um programa de televisão, nunca veremos suas histórias no “Arquivo confidencial”, não participaram de um “ping-pong” de perguntas e respostas, não vamos ver seus nomes nas páginas amarelas...
Essas “entrevistas” (as televisivas ou não) se tornam a síntese de alguém que viveu, tomou consciência de si e arrisca-se em dizer do seu coração, de sua vida. Aqui é onde quero chegar com esse comentário: Tomar consciência de si.
Na entrevista, pode-se esquivar de uma pergunta, apresentar somente uma versão, selecionar e ampliar fatos. Mas na vida, não. Nesse sentido, os “não-midiáticos” que conheço mostram que tem um particular lugar onde não se esconde nada.
Diante de mim mesmo, não tem escapatória!
Pensei: Que respostas eu daria a mim mesmo? Como eu me definiria? Quais são os pedaços do mosaico de minha vida que eu mostraria mais? Que coisas me fariam pedir um “breack” para tomar o fôlego e só responder “após o intervalo”?
Ao menos, de minha parte, tenho diversas perguntas! Mas nem sempre é assim. Parece que cada vez mais estamos fugindo da “interrogação”, algo que é bastante elementar no homem. As perguntas nos desinstalam, tiram o chão.
Lembro-me de uma senhora que me confidenciou a respeito de sua família: “o dia em que eu parei para me ouvir... tirei minhas máscaras... abandonei meus julgamentos... me dispensei das minhas razões... nesse dia percebi que quem precisava mudar era eu”. Ui! Precisa de comentário?!?
Ela se colocou “de frente com ela mesmo” e descobriu que ali não tinha escapatória! (vale a repetição no texto). Mas só funcionou assim!
Aqui uma compreensão maior: acima de tudo, somos chamados a nos colocar DE FRENTE COM DEUS! A Ele, podemos nos dirigir, como fez o salmista: “Senhor, tu me sondas, e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Esquadrinhas o meu andar, e o meu deitar, e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces” (Sl 139).
O mais interessante é que, diante de Deus, não precisamos temer! Porque ele sonda e conhece nossos pensamentos, podemos nos aproximar, sabendo do seu infinito amor e misericórdia. E o nosso “grande Entrevistador” interage mostrando a beleza que tem no interior de cada um, ajudando a superar os limites e aceitar ainda o que não pode ser superado, acolhendo e amando.
Por aí, podemos nos colocar diante de nós mesmos, reconhecendo nossa essência, que é Amor e decidindo pelo Amor... decidindo por Deus. Por aí, podemos nos colocar diante do outro, diante da vida, reconhecer o dom que cada um é, decidindo pela comunhão... decidindo pelo Amor.
Dá tempo de me lembrar ainda do jovem da parábola contada por Jesus... Aquele que pegou a parte de sua herança e #Partiu (Lc 15, 11-32... corre lá e leia!). Em dado momento da história, aquele menino doido precisou se enxergar para perceber o erro que cometeu.
Façamos como o filho da parábola do Pai Misericordioso. Permitamos nos olhar, mas também olhar para Deus, frente a frente, sem máscaras, sem medo, sem encenações... e reconhecer que perto do Pai é melhor e por isso, podemos nos levantar e ir ao seu encontro.
Façamos como o filho da parábola do Pai Misericordioso. Permitamos nos olhar, mas também olhar para Deus, frente a frente, sem máscaras, sem medo, sem encenações... e reconhecer que perto do Pai é melhor e por isso, podemos nos levantar e ir ao seu encontro.
DE FRENTE COM DEUS não há escapatória!
E que bom que é assim!
Paz e Alegria,
Pe. Flávio Porto
Paz e Alegria,
Pe. Flávio Porto
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