Roubar o pôr-do-sol

14:45:00



Há pequenas coisas que nos tocam e, de alguma forma, oferecem-nos algum ensinamento...

O bonito e jovem casal sabia marcar a vida um do outro, nos gestos mais simples, nas manias mais inusitadas. Sabiam dessas coisas. Já conseguiam brigar e se reconciliar considerando os “acidentes” de existência que traziam. O previsível que ofereciam-se entre si tornava-se espetacular com as surpresas que conseguiam fazer, deixando sempre uma marca profunda em seus corações.

Em uma dessas, ele surpreendeu: “Quero que todas as vezes que você olhar o pôr do sol, lembre-se de mim!”.

Eles estavam no alto do monte, fim de tarde, suave música disputando a atenção com os passarinhos e cigarras. Lá em baixo, a cidadezinha começava a vestir seu pijama, ligava as luzes e desacelerava os passos.

A resposta: “Você, assim, roubou para si todos os meus ‘pores do sol’  que eu presenciar... Ainda que eu me esforce, sempre me lembrarei desse dia”.

Sei que o relato traz uma grande dose de romantismo (óbvio), tornando-o quase uma pintura, mas o mesmo me fez pensar algo: Todos nós podemos marcar a vida do outro... Melhor ainda, positivamente e para sempre! Eles mesmos me ajudaram com esses e outros relatos a perceber essa possibilidade.

Porque não usar da gentileza, caridade, criatividade, sensibilidade para deixar a vida de quem está ao nosso redor, ou, talvez, àqueles que somente vão passar por nós, mais bonita, marcada e cheia de significado. Podemos surpreender aos que estão ao nosso redor, tirando da normalidade do cotidiano uma “nova tinta” para a pintura, chamada vida.

Só um comparativo... Pensemos como deixar marcas negativas se torna tão fácil!!!

O próprio casal que incentiva esse comentário me fez enxergar isso com seus exemplos. E, de novo, “porque, não” utilizarmos de todos os esforços para fazer o bem. Quem sabe chega uma hora e esses esforços se tornam a coisa mais natural.

Imagino que todo mundo, por um dia, por um instante, já foi um “pouquinho de tinta guache” (é a que vem na cabeça agora) para alguém. E esse pouquinho de tinta sempre é tomado, recordado em todas as situações que remetem à sua passagem na vida dela. Foi “sacramentalizado”.

Sabe, na perspectiva de fazer o bem ao próximo, não dá vontade de ser lembrado por mais e mais gente?!?

Lembro-me de uma senhora que visitei, no início de minha vida de seminário.... Ela estava de cama há anos.  

Em diversos momentos da conversa ela chorava seu sofrimento. Aí, ela me segredou: para sofrer menos, sempre me lembro de alguma coisa que me faz rir, me dá lembrança gostosa. Ela também disse que, a partir de então, me colocaria em suas lembranças. Como aquele jovem roubou o pôr do sol, ela roubou também meu sorriso e uma lágrima de agradecimento a Deus. Acho que só a presença ali me dizia que também estava "roubando um sol" dela.

Para fazermos o bem e marcar a vida das pessoas, entremos sem medo!

“Roubemos” o pôr do sol.

“Roubemos” o sorriso.

Tornemo-nos sinal!!!

Paz e Alegria,
Pe. Flávio Porto

Foto: Pe. Flávio Porto

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1 comentários

  1. Nossa agora me fez recordar como comecei o romance com meu ex-marido nócontemplávamos sempre o pôr-do-sol e tenho certeza q é um dos momentos q ele não esqueça e a lua cheia....

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